Quarta-feira – 16 de abril
Texto - Ieda Beltrão
Jane, Luciana, Vanilse, Catarina, Anair, Lice... a dor é latente nos corações, na mente daqueles que ficaram sem poder receber o abraço da volta, o aconchego, o som da voz dessas seis mulheres.
A dor sufoca a vontade de gritar um bom dia, boa noite, que bom que está de volta! Como foi a consulta? Se sente bem? Vem, senta aqui, vamos tomar um chimarrão! Me conta como foi a viagem, saíram tão cedo! Que bom que está de volta! Senti falta de teu sorriso no café, mas sabia que logo estaria de volta!
Mas não foi o que aconteceu – Jane, Luciana, Vanilse, Catarina, Anair, Lice, vocês não puderam voltar. A missão de vocês na terra chegou ao fim na curva de uma estrada, numa madrugada de neblina, onde o fio da vida foi cortado.
Está difícil. As lágrimas escorrem, os olhares se cruzam e um pedido mudo se espalha entre amigos, pais, irmãos, mães – vem cuidar de mim. É um pedido natural meus queridos, afinal essas seis mulheres cuidaram, acarinharam, abraçaram, protegeram seus amores por tantos anos. Cada uma com seu jeitinho, com sua força, com sua vontade, com seu tempo.
Cuida de mim! Sim, esse é o pedido dessas pessoas que hoje choram porque vocês seis foram tiradas da vida deles sem aviso, num corte bruto e insensível.
Como aplacar a tua dor meu querido Luciano? Sua Vanilce e sua filhinha perderam a vida juntas, abraçadas. Elas não puderam voltar correndo para seus braços, elas não podem mais segurar tua mão quando surgirem as dúvidas, incertezas da vida.
Como não te envolver num abraço silencioso meu senhor, que perdeu o amor de anos, a mãe de teus filhos criados, a cúmplice das doces conversas ao sabor de um bom chimarrão, das lutas vencidas, das lutas perdidas, a força de seus passos. Como?
Como não tentar aliviar a angústia profunda no olhar dos irmãos de uma mulher valente, de uma mulher que amava a família, que protegia a cada um com jeito, confiança e amor?
Queridos, elas se foram, assim sem aviso, sem um até breve. Simplesmente foram cortadas de suas vidas sem um pedido de licença.
Então não vamos pedir que parem de chorar de repente, que sufoquem a dor, que não deixem que a saudade invada seus corações. Mas vamos sim dizer, gritar se for preciso, que estaremos por perto, nem que seja em orações, em palavras jogadas ao sol, a lua, aos pássaros, vamos estar juntos, vamos abraçá-los na confiança de uma amizade verdadeira.
Vamos cuidar de cada um de vocês, vamos cuidar com o mesmo carinho que essas seis mulheres cuidaram.
Vanilse, Luciana, Anair, Catarina, Jane, Lice. Fiquem em paz, hoje eles sofrem, choram, mas o tempo se encarregará de, aos poucos, transformar essa dor em uma profunda saudade.
Fiquem em paz! O calor, o carinho, o amor de vocês protege, cuida e orgulha uma cidade, uma comunidade.
Obrigada estrelas santiaguenses!
Vanilse Poletto, 35 anos, Luciana Poletto Silveira, 3 aninhos, Catarina Heyna, 52 anos, Anair Rodrigues Assis, 78, anos, Lice Isabel UbertiBertazzo, 60 anos e Jane Terezinha Ribeiro Polga, 50 anos.